Ficou no passado a ideia de que ser mestre ou doutor só tinha valor na academia. Os profissionais com a titulação estão sendo disputados pelas universidades e também pelo mercado de trabalho, onde atuam em áreas que vão do petróleo e gás à bioética, passando pelo agronegócio. Os salários, segundo levantamento de empresas especializadas no recrutamento de profissionais de alta qualificação, em setores como a área jurídica, podem crescer até 60% em relação aos profissionais que possuem apenas a graduação. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) são um bom termômetro da busca por esses profissionais. No primeiro semestre, mais de 1,1 mil estrangeiros foram autorizados a trabalhar no Brasil, número 12% maior que o registrado entre janeiro e junho de 2011. No ano passado, o salto foi surpreendente. Tiveram autorização para trabalhar no Brasil cerca de 1,7 mil mestres e doutores, número quase três vezes superior ao registrado em 2010.
A demanda do mercado tem causado também uma corrida para os cursos stricto sensu. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a procura pela modalidade, que crescia a uma proporção de 3% a 4% ao ano, praticamente dobrou, e hoje avança 8% ao ano, mantendo 8 mil futuros mestres e doutores, em 70 programas. “Temos uma falta significativa desses profissionais no país. Mestres e doutores incorporaram novos conhecimentos às empresas, à indústria, inclusive no planejamento do crescimento”, diz o pró-reitor de pós-graduação da UFMG, Ricardo Santiago Gomes. Segundo ele, a demanda cresce também nos quadros da academia. Em dois anos, o número de professores com a titulação na UFMG saltou de 1,2 mil para 1.550.
O diretor comercial do Instituto de Educação Superior Latino-americano (Iesla), Jasube Gouvea, explica que as instituições parceiras mantêm convênios com 15 universidades na América Latina, Espanha e Portugal, chegando à marca de 3 mil alunos em cursos de mestrado e doutorado distribuídos em mais de 30 programas. Segundo ele, a procura, que há quatro anos correspondia a 400 alunos por semestre, mais que dobrou, agora são 1 mil alunos no período. “O Brasil tem buscado esses profissionais no exterior. O título traz conhecimento e valoriza a carreira, inclusive sob o ponto de vista salarial”, comenta o especialista. De acordo com ele, a busca pela formação estrangeira é impulsionada também pelo valor do investimento. Enquanto um doutorado no Brasil pode custar perto de R$ 70 mil, no exterior o preço é de aproximadamente R$ 25 mil.
Mestrando na área do direito econômico internacional, o advogado Paulo Rage investe na qualificação para atuar em um mercado altamente especializado. Aos 26 anos ele concluiu a graduação, participou de programa acadêmico profissional na embaixada do Brasil em Washington e é um dos fundadores da Câmara de Comércio Brasil-Moçambique. “A especialização é uma necessidade do mercado de trabalho. Na minha área de atuação é preciso ter esse diferencial.”
Atuando também como empresário, Paulo já planeja o doutorado e diz que hoje existe uma dificuldade em encontrar profissionais com alto nível de especialização no Brasil. Ele conta que sua formação foi um diferencial para o crescimento de sua empresa, que recentemente se fundiu ao escritório Bernardes e Advogados Associados. O sócio, Flávio Bernardes, concorda. “Contratamos e valorizamos o profissional com título de mestre e doutor, inclusive oferecendo bolsas parciais para custeio. É importante aliar a prática a uma base teórica forte.”
Terra da oportunidade
Do total de autorizações concedidas a estrangeiros para trabalhar no Brasil em 2011, 66,6 mil foram para atividades temporárias e 3,8 mil para trabalho permanente. Das autorizações temporárias, mais da metade foi para profissionais com nível superior completo, com elevação substancial de mestres e doutores, que em um ano subiram de 584 para 1.734 autorizações. Segundo Carlos Alberto Caram, consultor da Caram Hunter, com o crescimento econômico houve um avanço do investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias no país, o que fez o mercado brasileiro importar essa mão de obra. Na Europa, onde os investimentos caíram em virtude da crise financeira, há excedente de profissionais altamente qualificados.
Reflexo imediato no salário
Quanto maior a titulação do funcionário, maior costuma ser sua renda. Daniel Rezende, gerente de performance da Dasein Executive Search, empresa especializada na busca de executivos com alta qualificação, diz que a demanda por mestres e doutores no Brasil cresce de forma generalizada, destacando-se o setor industrial, áreas como petróleo e gás, engenharias e siderurgia. A pouca oferta eleva os salários. Segundo a Dasein, em relação à graduação, nas áreas do direito o título de doutor pode fazer o salário aumentar em até 60%, na engenharia em 40% e na medicina, em média, 30%.
O head hunter Carlos Alberto Caram diz que a pós-graduação faz a renda melhorar pelos menos 30% nas áreas de pesquisa das companhias. “Para crescer, as empresas estão investindo em novas tecnologias e demandando o pesquisador, mas há também uma quebra de paradigmas, com a busca de profissionais com essa qualificação para cargos de gestão.”
André Franco é biólogo e, no ano passado, iniciou seu mestrado na área de gestão ambiental. Além de pesquisas que inovteem na área, ele quer competir por uma vaga na universidade e, para isso, diz que tem que se qualificar. “Depois do mestrado, pretendo já iniciar o doutorado.” Ele conta que, para o seu curso, Análise e modelagem de sistemas ambientais, foram 50 candidatos inscritos no ano passado, contra seis em 2010, incremento de mais de oito vezes em 12 meses. (MC)
Fonte: http://www.em.com.br/