Também conhecido como glossofobia, o desconforto ao se apresentar para uma plateia pode ser trabalhado em terapia. Mas algumas atitudes práticas ajudam a contorná-lo
Os principais motivos, à primeira vista, estão intimamente ligados à insegurança e ao medo de não atender as expectativas alheias. Porém, a raiz do problema pode ser mais profunda. “A autoestima e autoimagem, ligadas à própria identidade, têm relação direta com a questão do imaginário. A partir do momento em que se está diante de um público, aquilo que se refere às inseguranças e frustrações é potencializado”, explica a doutora em Psicologia Sueli Passerini, que ajudou Julia a superar o medo.
O psicólogo Elídio Almeida concorda e afirma que esse sentimento pode ser derivado de um histórico de punições. “Situações em que a pessoa se viu expressando seus sentimentos e sofreu algum tipo de repressão criam um evento traumático e ela passa a temer a opinião das pessoas”.
Conhecido como glossofobia, esse receio em se apresentar pode ter um efeito negativo em várias áreas. “Causa danos na vida profissional, pois somos cada vez mais solicitados a mostrar o que possuímos e essa ausência faz com que haja a perda no espaço profissional. Também surgem dificuldades em relacionamentos interpessoais. Não mostramos quem somos e o que queremos, e acabamos nos anulando”, explica o professor de oratória Leandro Santos.
Apesar disso, o estresse causado por falar em público é natural do ser humano, como uma reação instintiva. Não é algo que se deva combater, mas sim aprender a conviver. “Nós sempre achamos que as pessoas enxergam mais do que elas realmente veem em nós. Isso nos leva a uma atitude de defesa para evitar a transparência. Este é o mesmo comportamento que, inconscientemente, nos leva a procurar as mesas próximas às paredes nos restaurantes ou a evitar sentar com as costas voltadas para a porta”, exemplifica Mario Persona, palestrante e autor de sete livros, entre eles “Dia de Mudança” (Editora Landscape).
Sueli reforça que é preciso um processo de autoconhecimento, tanto dos defeitos quanto das qualidades individuais, para encontrar a melhor forma de lidar com o próprio medo de se apresentar em público.
Segundo o professor Leandro Santos, também é importante “descolar” nossos próprios rótulos. “Muitas pessoas são rotuladas de coisas que elas não são, como preguiçosas ou ignorantes, e passam a se enxergar desse jeito.”
Na prática
Mas, às vésperas de uma apresentação em público, algumas atitudes práticas podem ajudar. Alguns dias antes, experimente gravar o seu discurso e ouvi-lo depois. Isso ajuda a identificar quais entonações podem ser melhoradas, e como passar a mensagem de maneira clara. “Ao ouvirmos uma gravação estamos ouvindo como realmente soa a nossa voz, já que ao falarmos o som chega aos nossos ouvidos alterado pela ressonância da caixa craniana”, explica Persona.
O escritor também indica, se possível, fazer uma visita prévia ao local. Assim o orador, além de se familiarizar com o espaço, também presta atenção em possíveis obstáculos que podem atrapalhar na hora do discurso, como degraus e fios soltos.
Falar na frente de um espelho é eficiente para memorizar o discurso. No entanto, não é tão eficaz para o treinamento da fala. “O verdadeiro medo é estar diante do outro e ser observado. Falar na frente do espelho não passa a verdadeira sensação de estar em pé, falando para um grupo”, explica o professor Leandro.
Na hora da apresentação, todos os especialistas recomendam: comece respirando de maneira correta, levando o ar para a barriga. “Quando ficamos ansiosos, a psique associa o momento a uma situação de perigo e a respiração fica curta. É preciso controlar essa afobação”, ensina a psicóloga Sueli.
Para o palestrante Mário Persona, é importante mostrar determinação e confiança ao entrar no palco – mesmo que você não se sinta nem um pouco confiante. “Uma entrada mais agressiva cria confiança no orador”, diz.
Uma boa técnica é falar segurando algo: pode ser um botão, ou um clipe de papel dentro do bolso. Esse gesto dá mais segurança, pois funciona como uma espécie de apoio em um território desconhecido. “Como o medo é causado por insegurança, existe em nós certo alívio quando podemos segurar em alguma coisa”, exemplifica Persona.
Para lutar contra a perda de memória, o famoso ‘branco’, o escritor dá duas dicas. A primeira érelaxar e manter na mente que, de todas as pessoas que estão ouvindo, provavelmente uma só conheça o discurso. Logo, ninguém vai saber se o apresentador errou ou não.
A segunda é anotar as palavras-chave do discurso em algum lugar. Não há problema em ler durante a apresentação; só não se esqueça de escrever como deve ser dito. Faça suas anotações em uma apresentação de Power Point ou em pequenos cartões de fácil manuseio. “Nunca se deve usar uma folha inteira de papel, pois o tremor das mãos é amplificado e percebido pelo balançar da folha, e mesmo ao segurar os cartões o melhor é fazê-lo com as duas mãos para evitar este efeito”, indica Mário Persona.
Caso se sinta muito exposto, a psicóloga Sueli ensina uma estratégia interessante: crie um personagem e se apresente como ele. Essa criação de uma nova identidade atenua a sensação de exposição. É como atuar: não é você que está ali e sim alguém mais seguro ou falante.
Um bom orador é aquele que tem presença de palco e abordagem natural do tema. Para fugir do artificialismo na hora da fala, comece contando algum fato ou história trivial. Esse artifício ajuda na hora de iniciar a fala sobre o tema de maneira segura e fluída.
Encare os participantes apenas se sentir segurança para tal. Olhar nos olhos dos ouvintes e depois desviar olhando para baixo transparece insegurança, fazendo com que a credibilidade do que está sendo dito seja questionada. Caso não se sinta apto a fazer isso, imagine que existe uma fileira após a última linha de ouvintes e fale olhando para lá.
A energia que você passa para a plateia é fundamental, assim como a que recebe de volta.
Desvie dos olhares negativos e procure encontrar nos ouvintes aqueles que parecem mais felizes e concordam com o que está sendo dito. “Falar em público é uma atividade que depende não só de quem fala, mas também de quem ouve. Existe uma simbiose entre ambos”, finaliza o palestrante Mário.
Ainda assim, a prática e autocontrole são primordiais na hora da ação. Júlia Graziato pôs à prova o que aprendeu com sua terapia: em uma apresentação de 40 minutos, a gerente de projetos falou por 20 e, de repente, passou pelo famoso ‘branco’. “Para me acalmar, fiz uma pausa, bebi um copo de água e respirei fundo. A linha de raciocínio voltou e pude continuar. Não é que o meu medo sumiu, mas tive que aprender a me preparar apesar dele”, finaliza.
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Fonte: http://delas.ig.com.br/comportamento/2013-09-15/como-perder-o-medo-de-falar-em-publico.html